Uma operação da Polícia Civil de São Paulo trouxe novos desdobramentos sobre o escândalo das bebidas adulteradas com metanol. Na última sexta-feira (10/10), os agentes descobriram uma fábrica clandestina em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, onde uma grande quantidade de garrafas, galões e rótulos falsos foi apreendida. O local, montado dentro da garagem de uma residência, pode ser a chave para entender de onde vêm as bebidas que têm causado intoxicações e mortes.
O “Fantástico” teve acesso, com exclusividade, ao inquérito que detalha o caminho percorrido por algumas dessas bebidas contaminadas até chegarem ao consumidor final.
As investigações começaram após uma blitz em um bar na Mooca, zona leste da capital paulista — o mesmo onde Ricardo Lopes Mira, de 54 anos, e Marcos Antônio Jorge Junior, de 46, consumiram bebidas alcoólicas antes de morrerem. No local, os policiais apreenderam nove garrafas: uma de gin e oito de vodca, todas suspeitas de adulteração.
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Abrir em tela cheia“Segundo os peritos, algumas garrafas apreendidas continham até 45% de metanol — uma concentração considerada letal. Para se ter uma ideia, o limite tolerável da substância em bebidas como vodka ou gin é de apenas duas gotas por 100 ml. ‘Metanol com água, quase que meio a meio’, afirmou Mauro Renault Menezes, diretor do núcleo de química do Instituto Criminalista da USP.”
A partir do rastreamento dessas bebidas, os investigadores chegaram ao fornecedor do bar e, em seguida, à fábrica clandestina. No local, uma mulher foi presa em flagrante por adulterar produtos alimentícios. Ela seria integrante de uma empresa familiar que, de acordo com os policiais, atua nesse tipo de esquema há aproximadamente 20 anos.
Um ponto que preocupa os investigadores é a possível origem do metanol usado na falsificação. Há indícios de que o álcool utilizado nas bebidas tenha vindo de postos de combustíveis, o que levanta a hipótese de que o etanol comercializado nesses locais já estivesse contaminado. A suspeita abre caminho para uma apuração mais ampla sobre uma possível rede de fraudes envolvendo diferentes setores.
Até o momento, 29 pessoas foram intoxicadas após consumir bebidas adulteradas — a maioria em São Paulo, mas também há registros no Paraná e no Rio Grande do Sul. Cinco vítimas morreram. A Polícia Civil continua as investigações para localizar outras fábricas ilegais e identificar os responsáveis pelo fornecimento do álcool contaminado.