Estudos recentes sugerem que determinados alimentos ultraprocessados, ricos em açúcar, gordura e sal, podem desencadear respostas cerebrais associadas à recompensa e ao prazer, ativando neurotransmissores como dopamina e endorfina, semelhantes aos que atuam em vícios por substâncias como nicotina ou álcool. A nutricionista do portal LeoDias, Adriane Dias, explicou o efeito que o vício em comida pode causar no paciente.
Segundo a profissional, é importante alertar que comer não é igual a usar drogas. Comer é uma necessidade biológica, essencial à sobrevivência. Ninguém perde a casa por causa de comida, e os sintomas de abstinência e tolerância não se comparam aos observados em drogas ilícitas ou medicamentos de uso abusivo.
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Abrir em tela cheiaComo o “vício” funciona no cérebro?
Pesquisas em neuroimagem mostram que alimentos altamente palatáveis (como chocolates, frituras e produtos açucarados) ativam o sistema de recompensa no cérebro, especialmente áreas como o núcleo accumbens e o córtex orbitofrontal, responsáveis pela sensação de prazer e motivação.
Com o tempo, esse estímulo repetido pode reduzir a sensibilidade dos receptores de dopamina, fazendo com que a pessoa precise de porções maiores para sentir o mesmo prazer, um mecanismo parecido ao da tolerância à drogas. Ainda assim, a intensidade dessa resposta é muito mais leve que a de substâncias como cocaína, álcool ou nicotina.
Outras atividades também liberam dopamina e produzem prazer, como atividade física, sexo, meditação, ouvir música ou socializar. Isso mostra que o sistema de recompensa é multifatorial, e que prazer e “vício” são conceitos diferentes.
Existem alimentos com maior risco de vício?
Sim e não. A ciência fala em “potencial aditivo” de certos alimentos, não em dependência real. Segundo revisões sistemáticas publicadas no Nutrients e na Cambridge University Press, os alimentos ultraprocessados com combinações específicas de gordura, açúcar e sal tendem a ser mais “difíceis de resistir”
A indústria alimentícia criou produtos que estimulam prazer imediato, mas com baixo valor nutricional e alta densidade calórica. Esses alimentos são projetados para ativar o sistema de recompensa rapidamente e reduzir a saciedade, o que contribui para o consumo exagerado.
Por outro lado, e infelizmente, alimentos in natura e minimamente processados (como frutas, grãos e legumes) não geram o mesmo padrão de ativação cerebral, mesmo quando muito apreciados.
Qual o melhor caminho ou tratamento?
Falar em “tratamento” depende de como o comportamento está afetando a vida da pessoa. Quando há perda de controle, compulsão ou sofrimento, é importante buscar ajuda profissional e multi. O primeiro passo é retomar o comer consciente: perceber fome real, identificar emoções que levam ao comer automático e reconstruir uma relação de prazer e equilíbrio com os alimentos, sem culpa nem proibições extremas.
Adriane Dias ainda ressaltou que o acompanhamento profissional com nutricionistas, psicólogos e médicos pode atuar no manejo desses casos. O nutricionista ajuda a reconstruir hábitos alimentares e organizar rotinas, enquanto o psicólogo trabalha as emoções associadas à comida. Já o médico avalia fatores biológicos, hormonais e neurológicos que podem influenciar o comportamento alimentar.
“A ciência caminha para reconhecer que há, sim, mecanismos semelhantes entre compulsão alimentar e dependência química, mas o “vício em comida” não é um diagnóstico formal. O que se sabe, até agora, é que a relação emocional e comportamental com a alimentação é o que mais determina a perda de controle e não o alimento em si”, finalizou a nutricionista do portal LeoDias.