A perícia em Lisboa concluiu que o descarrilamento do Elevador da Glória, que matou 16 pessoas em setembro, foi causado por falhas graves no cabo que unia as cabines. O material não era certificado para transporte de pessoas. A Carris prometeu apurar responsabilidades. Saiba mais.
A perícia concluiu o que causou o descarrilamento do Elevador da Glória, em Lisboa. O acidente aconteceu no início de setembro e deixou 16 pessoas mortas. O relatório preliminar da investigação foi divulgado nesta segunda-feira (20), pela GPIAAF (Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários). As informações apontam falhas graves no cabo que unia as duas cabines do funicular, que liga a Praça do Rossio ao Bairro Alto.
Segundo a GPIAAF, o cabo que rompeu durante o trajeto “não estava conforme com a especificação” da Carris, empresa responsável pelo transporte, “nem estava certificado para utilização em instalações para o transporte de pessoas”. Ainda de acordo com o documento, o cabo “não era indicado para ser instalado com destorcedores nas suas extremidades”.
O acidente matou 5 portugueses e 11 estrangeiros, além de deixar cerca de 20 feridos. Após o descarrilamento, o elevador colidiu com a fachada de um prédio. Os demais funiculares da cidade seguem fora de operação desde a tragédia, e a GPIAAF recomendou que permaneçam assim até que todos passem por fiscalização e apresentem sistemas de freio “capazes de imobilizar as cabines em caso de rompimento do cabo”.
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O relatório também expôs falhas nos mecanismos internos da Carris, especialmente no processo de aquisição do cabo. O documento revela que a empresa enviou aos fornecedores especificações técnicas que se referiam, na verdade, ao elevador de Santa Justa, com alterações apenas no diâmetro, mas sem considerar diferenças de projeto entre os equipamentos. “Por uma razão que a Carris não conseguiu explicar à investigação, e de que não foi possível encontrar evidências documentais na consulta feita aos fornecedores, foi adotada para os dois artigos adicionados, correspondentes aos cabos para os ascensores da Glória e do Lavra, a especificação fornecida […] para um dos cabos do elevador de Santa Justa”, destacou o GPIAAF.
A investigação ainda informa que o lote incluía dois cabos. Um deles funcionou por 600 dias. O outro, que rompeu em setembro, falhou após 337 dias de uso. Durante a instalação do equipamento, técnicos notaram diferenças estruturais, mas não possuíam conhecimento suficiente para identificar a incompatibilidade com o modelo exigido. Conforme a investigação, o setor de engenharia, consultado informalmente, não desconfiou da origem do material: “Estava no pressuposto de que o cabo em questão correspondia à alternativa em alma de fibra sintética admitida na especificação que havia elaborado e não tinha sequer motivo para suspeitar de que o cabo adquirido não lhe correspondia”.
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O Elevador da Glória descarrilou e tombou esta quarta-feira, junto à Avenida da Liberdade, em Lisboa. Segundo os bombeiros sapadores, o acidente provocou “muitas vítimas”, incluindo feridos graves. pic.twitter.com/ADWpR5c8oe
— Mundo Vivo (@mundo__vivo) September 3, 2025
A Carris se manifestou por meio de nota ao jornal Correio da Manhã, indicando que a aquisição do cabo ocorreu “em mandato anterior ao do presente conselho de administração”. A empresa disse que o relatório ainda “não permite afirmar se as desconformidades na utilização do cabo são ou não relevantes para o acidente”. A transportadora também afirmou desconhecer os detalhes apontados pela perícia e declarou que, diante do “incumprimento de normativos em vigor”, apurará as “respectivas responsabilidades”.
O acidente
O desastre, que matou 16 pessoas e deixou ao menos 20 feridas, ocorreu no dia 3 de setembro, por volta das 18h, quando o bondinho perdeu o controle e se chocou contra um prédio. O elevador, com mais de 140 anos, ligava a Praça dos Restauradores ao Bairro Alto, um dos principais pontos turísticos de Lisboa. Um vídeo divulgado mostra o momento da colisão e a correria de pessoas tentando prestar socorro aos feridos.
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