A Polícia Técnico-Científica de SP confirmou a presença de veneno na casa de Ana Paula Veloso Fernandes, estudante presa e investigada por quatro mortes em SP e no RJ. A polícia apura se a substância encontrada foi usada nos crimes.
Nesta segunda-feira (14), um laudo da Polícia Técnico-Científica de São Paulo confirmou a presença de veneno na casa de Ana Paula Veloso Fernandes. A estudante de Direito, presa desde julho, é investigada como uma possível serial killer responsável por três mortes em Guarulhos (SP) e uma no Rio de Janeiro.
De acordo com o documento do Instituto de Criminalística (IC), o frasco apreendido na residência continha terbufós, um inseticida e nematicida utilizado para o controle de pragas na agricultura. A substância é altamente tóxica para humanos e animais, agindo por meio da inibição da enzima colinesterase, o que provoca intoxicação e paralisia.
O terbufós também é usado, de forma ilegal, como princípio ativo do “chumbinho”, veneno popular proibido para uso doméstico. O contato direto com o produto pode causar a morte de pessoas e animais.
As investigações ainda buscam determinar se o veneno encontrado foi de fato utilizado nas vítimas. A suspeita é de que Ana Paula teria adicionado a substância em alimentos — como feijoada, bolo, sanduíche e milk-shake — para envenenar as pessoas que ela é acusada de matar.
Ana Paula é ré pelos assassinatos de Marcelo Hari Fonseca, Maria Aparecida Rodrigues, Neil Corrêa da Silva e Hayder Mhazres. Em todos os casos, ela estava presente com as vítimas ou procurou a polícia para relatar as mortes, o que despertou a desconfiança dos investigadores.
Segundo as autoridades, as quatro vítimas apresentaram sintomas semelhantes, como edema pulmonar e lesões internas compatíveis com envenenamento. Três dos corpos foram exumados para análises complementares.
A polícia técnica agora trabalha em um novo laudo, que deve confirmar se o veneno apreendido foi o mesmo utilizado nos assassinatos. O resultado ainda não foi concluído.
“Nossa investigação nos levou a crer que Ana Paula matou quatro pessoas envenenadas. Aguardamos os exames para saber qual substância ou quais substâncias foram usadas”, disse o delegado Halisson Ideiao Leite, responsável pelo caso, ao g1.

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Suspeita confessou um dos crimes
Durante interrogatório, Fernandes confessou ter assassinado Marcelo Hari Fonseca, dono da casa onde ela morava em Guarulhos. O crime ocorreu em janeiro deste ano.
De acordo com a polícia, Marcelo teria morrido após comer um sanduíche supostamente envenenado. Apesar da confissão, Ana Paula nega o uso de veneno e afirma que o matou com uma facada. No entanto, não foram encontrados ferimentos compatíveis com faca no corpo da vítima.
Após a morte, Ana Paula tentou permanecer na casa de Marcelo, alegando ter mantido um relacionamento amoroso com ele — versão desmentida pela investigação. Foi ela mesma quem acionou a polícia para relatar o falecimento, sem mencionar qualquer envolvimento no crime. A confissão veio meses depois, quando foi presa sob suspeita de um segundo assassinato.
A polícia acredita que a estudante também esteja envolvida em outras três mortes: Maria Aparecida Rodrigues, para incriminar um policial com quem Ana Paula se relacionava; Neil Corrêa da Silva, idoso assassinado em Duque de Caxias (RJ) após consumir feijoada envenenada — em crime que teria sido encomendado pela filha da vítima, já presa; e Hayder Mhazres, jovem tunisiano de 21 anos, morto em maio, após conhecê-la em um app de encontros. Segundo a polícia, Ana Paula o matou por interesse financeiro e chegou a simular uma gravidez.
As investigações apontam que a suspeita contou com o apoio da irmã gêmea, Roberta Cristina Veloso Fernandes, para executar os crimes.
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Manipulação das investigações
De acordo com os investigadores, Ana Paula seguia um padrão de comportamento: após cometer os crimes, ela acionava a polícia para comunicar as mortes. A estratégia era uma tentativa de afastar suspeitas e manipular as investigações.
Na denúncia apresentada pelo Ministério Público de São Paulo, Ana Paula é acusada pelos assassinatos de Marcelo, Maria Aparecida e Hayder. A morte de Neil é investigada pelas autoridades do Rio de Janeiro.
Em decisão proferida em setembro, o juiz Rodrigo Tellini de Aguirre Camargo, da Vara do Júri de Guarulhos, manteve a prisão preventiva da universitária: “[Ana Paula] evidencia total desprezo com a vida humana e o risco [de sua liberdade] representa [perigo] para a ordem pública, tratando-se de [ela ser] uma verdadeira serial killer”.
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Defesa se manifesta
Após a repercussão do caso, a defesa de Ana Paula divulgou uma nota ao UOL afirmando que não existem provas conclusivas contra a suspeita. O advogado Almir da Silva Sobral destacou a ausência de elementos robustos e definitivos que confirmem a participação dela nas quatro mortes.
O profissional não mencionou a confissão de Ana Paula sobre o assassinato de Marcelo e sustentou o direito à presunção de inocência da cliente: “Qualquer afirmação prematura sobre sua participação, autoria ou responsabilidade é uma violação direta deste princípio fundamental. Reconhecemos a gravidade dos fatos investigados e a comoção social que geram. Nesta fase, em que as provas ainda estão sendo formadas e examinadas, não é possível, e (seria temerário), afirmar ou negar categoricamente qualquer tese defensiva”, pontuou.
Sobral também representa Roberta Cristina Veloso Fernandes, irmã gêmea da suspeita, e afirmou que aguarda o interrogatório dela, previsto para ocorrer nesta terça-feira (15), para se manifestar oficialmente.
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